A relação saudável torna possível a duas pessoas que se vão conhecendo, de modo cada vez mais íntimo e profundo, “gostar daquilo que descobrem”. Por “descoberta” entenda-se um movimento livre e positivo no sentido do encontro.
No início de um relacionamento
romântico/amoroso, ambos os parceiros têm um “livro” por abrir: um livro de
histórias, narrativas, experiências, características positivas, talentos,
curiosidades e também defeitos.
A vantagem de uma relação que vai
crescendo em intimidade é que permite que todo o potencial desse “livro” seja
revelado ao outro. Com naturalidade, sem obrigatoriedade de seguir capítulos
por ordem, e, sobretudo, com liberdade para participar num diálogo aberto com o
“autor”.
O amor e a intimidade desafiam os
nossos maiores medos em relação ao que somos e ao que devemos ser, bem como ao
que os outros são. Amando e desenvolvendo intimidade, corremos riscos. A honestidade,
a espontaneidade, a vulnerabilidade, a confiança e a aceitação que são
exigidos, podem proporcionar a reciprocidade, a alegria e a ternura, mas também
a rejeição e a mágoa.
Em algumas relações, a liberdade para
descobrir e deixar-se descobrir pelo outro, fica condicionada pela vontade, habilidade
ou mesmo permissão do parceiro para tal. Um dos resultados mais dolorosos do
“travão” à descoberta, é a chamada “co-dependência”.
Inicialmente associada aos cônjuges e
familiares de pessoas dependentes de álcool/drogas, a definição foi-se
alargando e abrange agora todas as relações em que…
“
…alguém deixou o comportamento de outro alguém afectá-lo ao ponto de necessitar
observar continuamente e/ou controlar o comportamento dos outros. “
Um denominador comum nas relações
co-dependentes é que normalmente há alguém que tenta “ajudar” outro alguém mais
“frágil”, mais “carente”, mais “perturbado”, ou com alguma característica que o
torna, aparentemente, mais vulnerável e dependente.
Outro denominador comum é a
obediência a regras “não escritas”, oriundas da família de origem, que pautam o
ritmo e a profundidade dos relacionamentos de proximidade. Regras sobre como
devem ser discutidos os problemas, como se expressam as emoções, como se
comunica (o que se deve e o que não se deve dizer), que expectativas se devem
ter dos outros, etc.
Que “sintomas” se podem encontrar
num “co-dependente”?
- Pensar e sentir-se responsável
pelos outros - pelos seus comportamentos, sentimentos, opções, necessidades e
até pelo seu destino.
- Sentir-se ansioso e culpado quando
os outros têm um problema.
- Sentir a “obrigação” de ajudar os
outros.
- Sentir-se chateado e frustrado
quando a sua ajuda não é eficaz.
- Perguntar-se “porque é que as
outras pessoas não fazem o mesmo por mim?”
- Dar por si a dizer que sim quando
queria dizer não, a fazer mais do que a sua parte justa numa dada atividade, a
fazer coisas que não queria, etc.
- Baixa auto-estima, baixa
autoconfiança.
- Tentar “encobrir”, minimizar ou
ocultar os próprios problemas.
A saída da co-dependência começa
justamente pela admissão destes sintomas. Perceber que não está a obter a
satisfação emocional desejada, que necessita quebrar os obstáculos que o
separam da verdadeira intimidade. Certamente ajudará saber que não é possível dar
este passo sem sentir medo. A grande aventura é fazê-lo na mesma.
Algumas crenças clássicas das
pessoas co-dependentes:
"Ficar
vulnerável, emocionalmente, perante o meu parceiro/a vai ter consequências
negativas. Vou ser rejeitado/a e magoado/a."
"Se me envolver demasiado numa relação irei perder a minha individualidade."
"Se realmente me conhecessem tal como sou, não iriam gostar de mim."
"Se descobrirem que não sou perfeito/a; irão abandonar-me."
"Se me envolver demasiado numa relação irei perder a minha individualidade."
"Se realmente me conhecessem tal como sou, não iriam gostar de mim."
"Se descobrirem que não sou perfeito/a; irão abandonar-me."
"Se
eu não controlar o comportamento do meu parceiro, vou-me perder, vou ficar
confusa, sem saber como agir."
Numa relação íntima saudável, o
compromisso baseia-se num mútuo interesse pelo outro, em que se enaltece o
verdadeiro “Eu”, não se anula de modo nenhum, a individualidade. Ter diferenças
de opinião, de perspetivas, etc, é ótimo. É isso que enriquece a relação. Falar
abertamente sobre essas diferenças ajuda a conquistar o respeito do outro.
Nas relações saudáveis ficar
vulnerável tem algumas vezes resultados negativos, é certo, mas é esse o
caminho para a maturidade e para a intimidade conjugal. Na relação de casal
madura, cada um é responsável por controlar as suas próprias atitudes e comportamentos.
A honestidade, a auto-estima e a autoconfiança geram reciprocidade.
Por Dra Dora Rebelo, Psicóloga Clínica e Terapeuta de Casal.
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