terça-feira, 17 de abril de 2012

Viver a sexualidade a dois



Uma vida sexual satisfatória pode ter significados distintos, para distintos parceiros. Para algumas pessoas, a satisfação sexual é sinónimo da frequência com que se tem relações sexuais com o/a companheiro/a. Para outros tem a ver com a forma como as relações sexuais acontecem (a qualidade ou variedade das actividades associadas ao sexo, a conexão emocional sentida, a intensidade do prazer, etc).

Na verdade não existe uma definição única daquilo que é uma “vida sexual normal”. Mas há elementos comuns quando se fala de uma sexualidade saudável:
  • Demonstrar uma atitude positiva em relação ao sexo com o/a companheiro/a
  • Sentir-se confortável com o corpo na presença do/a companheiro/a
  • Sentir-se seguro/a e ser capaz de confiar no/a companheiro/a
  • Tomar a responsabilidade pelo próprio prazer e pedir, de forma assertiva, o que necessita para aumentar a sua satisfação
  • Ser capaz de desenvolver competências sexuais que facilitem uma relação mais satisfatória
  • Ser capaz de recusar uma relação sexual ou um toque sexual que não aprecie/não lhe apeteça no momento
  • Sentir que o/a companheiro/a entende e respeita a sua sexualidade e as suas necessidades sexuais
É natural que o casal experimente altos e baixos na sua vida sexual. O excessivo stress trazido pelo trabalho, pela maternidade/paternidade, por uma doença ou evento traumático podem condicionar o desejo e a vivência da sexualidade. Por isso, é extremamente importante manter uma flexibilidade permanente e adaptar-se às situações especiais que vão surgindo.

No entanto, se verificar que as coisas não voltam a estabilizar-se, naturalmente, isso poderá significar que o casal está perante uma dificuldade sexual específica.

Os problemas associados à vida sexual do casal podem extrapolar para outras áreas da relação. Podem mesmo levar à separação, se um ou ambos os parceiros sentirem que as suas necessidades sexuais não são levadas a sério.
Por outro lado, por vezes são os problemas associados a outras áreas da relação que acabam por dificultar a vida sexual do casal. Por exemplo:
  • Ressentimento, conflitos mal resolvidos ou sentimentos de frustração
  • Dificuldades de comunicação e conexão com o/a companheiro/a
  • Dificuldades de intimidade/sentir-se próximo/a
  • Diminuição da atracção física
  • Falta de confiança, medo de ser magoado/a
  • Insatisfação geral com a relação
Problemas sexuais mais comuns:
  • Falta de desejo
  • Impotência
  • Ejaculação Precoce
  • Incapacidade de atingir o orgasmo
  • Frigidez/ dores durante a relação sexual
É importante ter em conta que algumas destas disfunções sexuais se podem dever a um problema de saúde concreto, à toma de determinada medicação (como um anti-depressivo), a alterações hormonais, a problemas de próstata ou do foro ginecológico, a um problema de saúde mental, etc.

Outros factores podem ser a falta de energia, o excesso de trabalho, o stress ou o abuso de substâncias tóxicas como o álcool/drogas. A diferença de rotinas e de biorritmo entre os membros do casal (devido a diferentes horários laborais e picos de energia particulares a cada indivíduo) poderá também obstaculizar a vida sexual.

Algumas dificuldades sexuais que se manifestam anos após o início da relação podem advir de situações que sempre foram um problema para um dos membros do casal (ou para os dois), mas que não foram abordadas/discutidas na altura.  É natural que no início da relação seja mais difícil falar sobre as necessidades sexuais. Daí a importância de desenvolver continuamente uma assertividade sexual responsável.
 Um parceiro insatisfeito com os preliminares, com as actividades sexuais desenvolvidas ou com a intensidade emocional sentida ao fazer amor, deve esforçar-se por falar abertamente sobre os seus sentimentos. 

É de particular relevância lembrar que os dois parceiros podem ter opiniões diferentes e níveis de desejo diferentes em relação à quantidade e qualidade das relações sexuais. É por isso, uma área que se deve manter aberta a renegociações permanentes.

Por fim, convém lembrar os factores pessoais associados ao sexo. Um dos parceiros poderá ter uma determinada atitude/emoção ante o sexo, causada pela sua história pessoal. Pode sentir demasiada ansiedade, sentir-se culpado/a ou ter outros sentimentos negativos, como a vergonha. Pode ainda ter tido experiências difíceis na sua vida sexual anterior, o que condicionará, certamente, a plenitude da sua satisfação sexual actual. 

Independentemente da razão, o importante é que ambos os parceiros comuniquem abertamente sobre a forma como se sentem e como desejam viver a sua sexualidade comum. O grande objectivo é que se sintam cada vez ais relaxados, confortáveis, confiantes e satisfeitos.
Muitas vezes, os casais não procuram ajuda profissional para lidar com os seus problemas sexuais, porque:
  • Esperam que o problema desapareça
  • Sentem vergonha/embaraço
  • Têm baixas expectativas sobre o quão satisfatória poderá ser a sua vida sexual
  • Sentem que o problema não vai desaparecer porque já é “crónico”
  • Não acreditam que a terapia de casal possa ajudar a resolver problemas sexuais
A terapia de casal pode ajudar a resolver problemas sexuais através de:
  • Melhoria da comunicação sobre a relação,
  • Clarificação de mal-entendidos/resolução de conflitos pendentes
  • Aconselhamento específico sobre exercícios de desenvolvimento de competências sexuais
  • Psicoterapia, tratando sintomas e crenças advindos de situações negativas passadas

Cuide de si e da sua Relação!

Por Dra. Dora Rebelo, Psicologa Clínica, Terapeuta de casal e Terapeuta Familiar.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Amor, Ciúmes, Loucura e Morte



De um modo geral considera-se que os ciúmes se encontram em estreita correlação com o amor de um sujeito a um objecto (o objecto amado em termos gerais; em concreto, a pessoa amada que, neste contexto, é objecto de ciúmes).

Dizendo-o metaforicamente , é frequente - ou melhor, tem sido frequente - quantificar o amor pela pessoa amada mediante a intensidade dos seus ciúmes, chegando-se ao ponto de muitas vezes se duvidar do amor de alguém que diz estar enamorado e não sente ciúmes em relação ao objecto do seu amor (Amor sem ciume, não é amor, Léautaud); ou de outra forma, "provocando-se ciúmes" ao enamorado para incrementar o seu desejo do objecto amado e que se consideram equiparáveis à intensidade do amor.

Esta "teoria" dos ciúmes é partilhada por quantos se sentem ou julgam sentir amados pelo sujeito ciumento: é-lhes gratificante, nesses momentos, transformarem-se em dominadores da situação e manipulam o ciumento com o seu galanteio.

Alem disso, é vulgar que usem de algum tipo de chantagem e sem o expressar se façam “comprar” por ele colocando o seu preço cada vez mais alto. Não há duvidas que algumas pessoas adoptam uma estratégia comportamental bastante eficaz para que surjam ciúmes no amante.

Por outro lado, muitas vezes e, na sua maioria, o objecto de desejo converte-se numa autentica vitima do ciumento (numa relação que dura anos e que já não é inspirada pelo desejo do objecto e que se tem constantemente ao lado) não sendo esses ciúmes inspirados pelo amor, mas sim por outra questão.

O que inspira os ciúmes não é o amor mas sim o sentimento de não ser amado ( o Ódio de não ser amado), pois as vitimas dizem ter motivos suficientes para sentirem que o ciumento não os ama, e que fora dos momentos de angustia suscitados pelos ciúmes sentem e demonstram uma verdadeira indiferença afectiva pelo outro.

É esta a dinâmica dos ciúmes numa relação triádica uma vez que só se pode falar de ciúmes quando aparece um terceiro elemento, o rival que compete com o ciumento pela propriedade do objecto amado.

Não raras vezes o ciumento alucina essa relação, que faz parte da sua imaginação, conduzindo-se à loucura a si e ao outro, num delírio psicótico destrutivo.
A loucura é uma forma de existência. Como é o da prudência. Mas alem disso, é um projecto de existência para o louco e, por isso, a sua razão de viver, o que dá sentido à sua vida.

Assim, só sabe existir desta forma, tentando encontrar em todos os gestos do outro motivo que justifique o seu ciúme e, quando o louco encontra motivos para a sua loucura tudo fica menos angustiante e a vida passa a ser mais suportável.

Não é concebível amar - desejar a posse total de alguém - sem a angústia que suscita a insegurança em relação à própria posse.

E também a ulterior angústia de que esse objecto, que neste momento cremos possuído, porque declara amar-nos, possa perder-se posteriormente, quer porque deixe de amar-nos, quer, o que é pior, porque, além disso, nos possa ser subtraído por amor a um terceiro.

Toda a relação, desde a mais precoce (com quem nos concebeu) requer segurança, que como já tenho vindo a explicar noutros postes, é a base da nossa personalidade.

Somos mais ou menos seguros, conforme o que experimentamos ao longo dos nossos primeiros anos de vida.
Se tivemos relações de segurança com as nossas figuras de referência então seremos adultos seguros. Se isso não aconteceu, poderão estar criadas as condições para mais tarde sobressair uma estrutura de personalidade insegura, ciumenta e maltratante na relação com o objecto amado nas relações adultas.

No entanto as nossas relações na vida social são quase sempre baseadas em graus de confiança mínima, mas que não apresentam níveis de desconfiança exacerbados.

Podemos assim, mediante essa confiança mínima, realizar coisas e estabelecer relações sem que nos sintamos perseguidos ou ciumentos.

Mas, o sujeito ciumento, apresenta graus de desconfiança que chegam a rondar a paranóia, quando pensa que perdeu a posse do objecto. Não é o pensar que não é amado que causa os ciúmes, mas sim a perda da posse do objecto, isso sim é elouquecedor, podendo em grau extremo, quando o ciumento (aplica-se a ambos os sexos) alucina e passa para estados psicóticos levar à morte do objecto e do sujeito num acto de loucura.

Os crimes passionais têm por base uma estrutura de personalidade paranóide e psicótica onde a desconfiança, a incerteza e a insegurança crescem dia a dia, até à passagem ao acto: a morte do objecto de deixa assim de pertencer ao outro.

Não há ciúmes normais. Os ciúmes são anómalos ainda que sejam frequentes e pouco intensos.

Por mais frequentes que sejam nas relações interpessoais, especialmente os que se revestem em relação amorosa, são sempre reveladores de uma situação não superada pelo sujeito.

Acima de tudo é uma situação crónica que vai subindo a gradação dos ciúmes, insuperáveis e incuráveis na sua maioria, por não serem considerados pela sociedade uma situação de doença.

OS CIÚMES são uma doença. E destroem uma relação. 

Não é só considerado doença a partir de um certo grau, aliás quem tem autoridade para falar disso são as vitimas que sabem quando já não suportam mais, mas essas, raramente vão a consultas de psicologia ou psiquiatria para que possam falar disso.

Amor, ciúmes, loucura e morte estão separados por muito pouco, coexistindo na vida de muitos casais de todas as orientações sexuais, tornando-a num inferno onde por vezes não é possível escapar, levando à morte lenta de vidas que ficam suspensas no delírio de alguém.

Se é vitima ou portador de ciumes incontroláveis na sua relação procure ajuda, ainda pode estar a tempo de mudar a sua vida e a sua relação.


A terapia de Casal e a psicoterapia revelam-se ferramentas muito eficazes na regulação emocional quer do portador de ciumes quer da relação, podendo transformar uma relação desequilibrada e doente, num relação saudável e construtiva.


Por Maria de Jesus Candeias, Psicóloga Clínica, Psicoterapeuta e Terapeuta de Casal