O
que fazer quando um casal não consegue entrar em sintonia no que diz respeito à
sua sexualidade?
E quando a sexualidade em vez de ser um espaço de intimidade
se torna arma de arremesso para lidar com outros problemas conjugais?
O que
significa ter uma vida sexual satisfatória?
Qual a frequência ideal das
relações sexuais?
E quando um dos elementos se anula, aceitando iniciar o acto
sexual só porque o companheiro(a) o quer fazer?
Habitualmente os casais
são confrontados por um conjunto de questões nesta área, muitas vezes
condicionados pelas crenças que foram interiorizando ao longo do seu percurso
de vida, mas também por um conjunto de informação que é transmitida
erroneamente através de mitos e tabus associados a esta temática, bem como
pelos significados que são valorizados pela nossa sociedade.
Existe uma
influência sócio-cultural nesta área, o que condiciona aquilo que o casal espera
um do outro. Esta situação pode acabar por afectar o casal, fazendo-o viver a
sexualidade com alguma tensão.
É importante ter em conta que cada casal deve
construir as suas próprias regras neste campo, não existe o certo ou o errado
desde que os dois elementos estejam satisfeitos e confortáveis na práctica
sexual, podendo esta ser divergente da de outros casais.
A Sexualidade assume um
papel essencial nas relações conjugais, sendo umas das componentes com grande
impacto no bem-estar do casal.
Considera-se que a satisfação sexual está
estritamente relacionada com a satisfação geral na relação, sendo que os
factores que condicionam a insatisfação sexual são divergentes para ambos os
sexos.
O sexo feminino, no âmbito da sexualidade, valoriza aspectos como o amor, afeição e carinho, para que a relação sexual seja satisfatória. Enquanto, que para o sexo masculino, a frequência e a variedade de actividades sexuais são habitualmente os factores mais importantes. Estes elementos podem provocar conflitos entre o casal por existirem necessidades diferentes para os dois e divergentes formas de expressão das mesmas.
Assim é necessário que sejam
comunicados e partilhados pelo casal, de modo a que possam fazer negociações,
para que ambos se sintam preenchidos e satisfeitos nesta área.
É importante ter em conta que a sexualidade no casal não é desprovida da componente afectiva, sendo que aspectos que provocam desagrado na relação podem provocar o desencantamento e, consequentemente, o afastamento de um dos elementos, ficando comprometida a intimidade do casal.
A sexualidade deve ser encarada como um elemento fundamental de partilha e intimidade, onde se conjugam os afectos, as fantasias, as aspirações, compromisso e investimento, sendo a junção destes factores uma importante fonte de manutenção do relacionamento, produzindo um cocktail de harmonia e satisfação conjugal.
Frequentemente o que falha neste campo é o facto de se agir com o(a) companheiro(a) como se ele ou ela pensasse e valorizasse os mesmos aspectos na sexualidade, não tendo em conta aquilo que é importante para ele(a).
Homens e mulheres funcionam de forma diferente, o que não tem que ser necessariamente um obstáculo na relação.
A forma como os homens sentem e expressam amor pelas suas companheiras está estritamente interligado ao relacionamento sexual. Durante o acto sexual ele está mais disponível para dar e receber amor. Assim, se perante a sua iniciativa de iniciar a relação sexual a mulher recuar, geram-se sentimentos de rejeição, sendo este um dos grandes desafios para relação, isto é, gerir os tempos de cada um e os significados que são atribuídos por ambos no que se refere a essa situação. Quando a parceira vai continuamente recusando as investidas do companheiro, sem qualquer tipo de explicação, pode surgir, devido aos pensamentos e sentimentos não expressos, afastamento da parte do homem e até mesmo perda de desejo em relação à mesma, pois sempre que é recusada a actividade sexual, o homem tem que suprimir o seu desejo. Se esta situação acontecer repetidamente, o desejo vai sendo suprimido automaticamente, gerando um grande desgaste para o mesmo.
O mesmo acontece com a mulher, quando sente que as suas necessidades de afecto, de atenção não são respeitadas vai-se progressivamente afastando, ficando menos receptiva ao acto sexual. Mas como este aspecto não é partilhado com o companheiro vão-se gerando mágoas e ressentimentos, ficando comprometido o relacionamento, mesmo nas outras áreas. Neste caso, quando não há o compromisso de comunicar com o outro as suas necessidades ou quando não há disponibilidade para entender aquilo que o outro precisa, pode-se estar a criar espaço para que outros os encantem, podendo surgir as relações extraconjugais como fonte de satisfação dos desejos sexuais que são reprimidos ou não satisfeitos na relação actual, mesmo que possa estar preservado o sentimento pelo outro.
Estas situações podem mesmo gerar rupturas conjugais, pois um dos elementos do casal pode sentir que as suas necessidades não são consideradas importantes pelo outro. Para além disso, a existência de outros problemas conjugais, ao não serem resolvidos afecta a vida sexual do casal. Assim, é necessário existir um investimento das duas partes para melhorar a relação sexual, não descurando as necessidades do outro, bem como tentar perceber e resolver os outros problemas ou dificuldades que estão a ter repercussões no bem-estar do casal.
Podem,
assim, surgir várias queixas no casal em relação a esta temática da sexualidade, associadas à
insatisfação que podem estar interligadas com a frequência, com o contexto,
tipo de experiências sexuais ou com a emocionalidade, bem como com a existência
de disfunção sexual apresentada por um ou ambos os elementos.
As disfunções
sexuais são transtornos associados a aspectos fisiológicos do ciclo da resposta
sexual, que incorpora o desejo, excitação e orgasmo.
As disfunções sexuais
podem surgir nestas três componentes, dando origem à falta de desejo,
impotência, ejaculação precoce ou retardada e incapacidade de atingir o
orgasmo.
Quando surge um destes problemas é necessário procurar ajuda médica,
para perceber se existe uma causa biológica, sendo necessário o tratamento
medicamentoso, mas também analisar se a disfunção tem uma causa psicológica ou
se é provocada pelo stress, cansaço, estilo de vida, entre outros.
Nessas
situações o casal pode necessitar também de apoio, para repensar a sua relação
sexual e para aprender a lidar com as suas próprias necessidades e com as do(a)
companheiro(a), tornando-os mais capazes de ultrapassar as exigências que
surgem na fase de vida em que se encontram.
Para além disso, alguns estudos têm
demonstrado que as disfunções sexuais podem estar associadas à
disfuncionalidade da própria relação, isto é, determinados comportamentos do
casal podem reforçar o problema sexual existente.
A Terapia de Casal pode
permitir melhorar a comunicação do casal, ultrapassando grande parte dos
bloqueios que estão associados à actividade sexual, facilitando a construção e
a definição da sua sexualidade, aumentando a satisfação e, consequentemente,
potenciando uma maior aproximação do mesmo.
Para além disso, com o evoluir da relação, o desejo sexual pode ir diminuindo, contaminado pela rotina do casal, pelo nascimento dos filhos e pelo rol de exigências que vão surgindo na vida de cada um, sendo por isso importante que o casal continue a investir na relação e que reconquiste a atracção.
A Terapia de Casal pode facilitar este processo de
descoberta de si próprio e do outro, permitindo derrubar o muro do silêncio e
do ressentimento que se pode ir construindo entre os elementos do casal.
Por Sónia Ferreira, Psicóloga Clínica e Terapeuta de Casal